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Publicado em 21/04/2025 às 09:03
Papa Francisco morre aos 88 anos
Argentino Jorge Bergoglio foi o primeiro latino-americano da História a comandar a Igreja Católica

Chegou ao fim o pontificado do primeiro latino-americano a comandar a Igreja Católica. O Vaticano informou, nesta segunda-feira, 21 de abril, a morte do 266º papa da história, Francisco, aos 88 anos. O pontífice esteve internado devido a uma dupla pneumonia por 37 dias no Hospital Gemelli, em Roma. Francisco recebeu alta em 23 de março e se recuperava no Vaticano.
"O Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai. Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal, especialmente em favor dos mais pobres e marginalizados. Com imensa gratidão por seu exemplo como verdadeiro discípulo do Senhor Jesus, recomendamos a alma do Papa Francisco ao infinito amor misericordioso do Deus Trino", diz comunicado oficial.
No Domingo de Páscoa, Francisco apareceu na sacada da Basílica de São Pedro, no Vaticano, para dar a tradicional bênção Urbi et Orbi (à cidade de Roma e ao mundo). Após o discurso, o Papa ainda fez um eio surpresa pela Praça de São Pedro em seu papamóvel para cumprimentar os fiéis. Ele circulou pela praça por alguns minutos e abençoou alguns bebês, escoltado por vários guarda-costas.
— Feliz Páscoa — disse aos fiéis em uma cadeira de rodas.
A morte do argentino Jorge Bergoglio encerra um pontificado de 12 anos, marcado pela popularidade do Papa entre os fiéis, mas também pela resistência dentro de setores da própria Igreja a seus projetos de reformas.
Assim que foi eleito, em 13 de março de 2013, Francisco mostrou seu desejo de ruptura ao aparecer na varanda da basílica de São Pedro sem nenhum ornamento litúrgico. O jesuíta sorridente e de linguajar franco representava um contraste com o tímido Bento XVI, que havia renunciado em 11 de fevereiro daquele ano.
Provavelmente, naquele ponto, o novo papa já tinha em mente algumas das principais propostas para a Igreja Católica: a reforma da Cúria (o governo da Santa Sé), corroída pela inércia, e correção nas finanças do Vaticano.
O ex-arcebispo de Buenos Aires, que nunca fez carreira nos corredores de Roma, queria também "pastores com cheiro de ovelha" para devolver o dinamismo a uma instituição cada vez menos presente e superada em muitas regiões pela vitalidade dos cultos evangélicos. Desde então, as pregações deste crítico do neoliberalismo destacaram reivindicações por maior justiça social, proteção da natureza e defesa dos migrantes que fogem das guerras e da miséria.
A Igreja agora questiona quem será o sucessor de Francisco, um pastor incansável que, apesar da idade avançada e do estado de saúde frágil, comandou mais de 1,3 bilhão de católicos na última década.
A vida de Bergoglio
Nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro 1936, Jorge Bergoglio é filho de um italiano que emigrou de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. Formou-se técnico químico, mas em 1958 entrou para a Companhia de Jesus e iniciou a preparação para o sacerdócio. Completou os estudos humanistas no Chile e, em 1963, de volta a Buenos Aires, formou-se na faculdade de Filosofia.
De 1964 a 1965, ensinou Literatura e Psicologia no Colégio da Imaculada de Santa Fé e, em 1966, lecionou as mesmas matérias no Colégio do Salvador, em Buenos Aires. De 1967 a 1970, estudou e se formou em Teologia. Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote.
Desde o início já era visto como um religioso em ascensão. De 1973 a 1979, serviu como o provincial dos jesuítas na Argentina. Em seguida, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual tinha se formado.
Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992 e depois sucedeu o adoentado cardeal Antonio Quarracino, em 1998. Em 2001, foi nomeado cardeal por João Paulo II, que o designou à igreja romana que leva o nome do lendário jesuíta São Roberto Belarmino.
Considerado como um homem simples e de poucas palavras, tinha grande prestígio entre os fiéis, que apreciavam sua total disponibilidade e seu estilo de vida sem ostentação. Bergoglio ia de metrô para o trabalho e cozinhava a própria comida. Gozava de prestígio pelos dotes intelectuais e, dentro do Episcopado argentino, era considerado um moderado.
Em 13 de março de 2013, foi eleito o 266º Papa. Escolheu o nome de Francisco, em referência a Francisco de Assis, santo padroeiro dos pobres.
Bergoglio levou novos ares a Roma: optou por viver em um apartamento sóbrio, rejeitando o suntuoso Palácio Apostólico, e frequentemente convidava à mesa moradores em situação de rua ou presidiários. Um estilo que também rendeu críticas de setores que viam nele uma dessacralização das funções papais.
Voz aos conflitos mundiais
O papa Francisco denunciava os conflitos que devastam o planeta, ainda que sem resultados concretos, como demonstraram seus apelos pelo fim das guerras entre Ucrânia e Rússia, e Hamas e Israel. Sua imagem rezando sob a tempestade na Praça de São Pedro vazia, durante a pandemia, também foi muito representativa a respeito da necessidade de reflexão da humanidade naquele momento.
Enquanto papa, Bergoglio manteve a atuação, apesar dos mais de 80 anos e do estado de saúde frágil, que o obrigaram a usar uma cadeira de rodas a partir de 2022. Em meio às dificuldades de saúde, seguiu privilegiando missões nas periferias do leste da Europa e na África, com mais de 40 viagens ao Exterior. No Brasil, Francisco esteve em 2013.
Durante seu pontificado, Francisco também chegou a um acordo inédito com o regime comunista chinês, em 2018, sobre a espinhosa questão da nomeação de bispos na China. A diplomacia da Santa Sé também colaborou para a histórica aproximação entre Cuba e os Estados Unidos em 2014.
* Fonte: GaúchaZH